Advogada diz
que encerrou carreira devido a ameaças de membros da CPI
Comissão convocou Beatriz Catta Preta para explicar origem de
honorários.
Presidente da CPI disse que convocação foi unânime e não há
perseguição.
A advogada Beatriz Catta Preta
afirmou em entrevista ao repórter César Tralli, na edição desta quinta-feira
(30) do Jornal Nacional, que decidiu deixar os casos dos clientes que defendia
na Operação Lava Jato porque se sentia ameaçada e intimidada por integrantes da
CPI da Petrobras. Ela disse que, devido às supostas ameaças, fechou o
escritório e decidiu abandonar a carreira.
Após a aprovação no último dia 9
do requerimento que a convocou para depor à comissão, a advogada desistiu de
continuar defendendo três clientes que fizeram acordo de delação premiada no
âmbito da investigação do esquema de corrupção na Petrobras. A CPI quer que ela
explique a origem do dinheiro recebido a título de honorários.
Indagada sobre quais eram os
autores das supostas tentativas de intimidação, Catta Preta respondeu:
"Vem dos integrantes da CPI, daqueles que votaram a favor da minha
convocação", declarou.
Sem citar nomes, Catta Preta,
especializada em acordos de delação premiada, disse que decidiu encerrar a
carreira a fim de zelar pela segurança da família.
"Depois de tudo que está
acontecendo, e por zelar pela segurança da minha família, dos meus filhos, eu
decidi encerrar a minha carreira na advocacia. Eu fechei o escritório",
declarou.
A advogada disse na entrevista ao
JN que recebeu ameaças de maneira "velada". "Não recebi ameaças
de morte, não recebi ameaças diretas, mas elas vêm de forma velada, elas vêm
cifradas", disse.
Beatriz Catta Preta atuou em nove
dos 18 acordos de delação premiada firmados por investigados da Operação Lava
Jato com o Ministério Público. Esses nove delatores são os executivos Júlio
Camargo e Augusto Mendonça (Toyo Setal); o ex-gerente de Serviços da Petrobras
Pedro Barusco; o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, a
esposa dele, as duas filhas e dois genros. Embora tenha atuado nesses nove
casos, se mantinha na defesa de três – Barusco, Júlio Camargo e Augusto
Mendonça.
Membros da CPI contestam
O deputado Hugo Motta (PMDB-PB)
afirmou por meio da assessoria que a convocação para depoimento não significa
perseguição à advogada.
"O requerimento de
convocação da advogada Beatriz Catta Preta foi aprovado por unanimidade no
plenário da CPI da Petrobras. A vontade de investigar a origem dos honorários
da advogada é suprapartidária, o que afasta de vez a acusação de
perseguição", declarou em nota. Após a exibição da entrevista no Jornal
Nacional, o parlamentar divulgou nova nota à imprensa, na qual classifica as
declarações de Catta Preta como "equivocadas".
O autor do requerimento de
convocação da advogada, deputado Celso Pansera (PMDB-RJ), disse que apresentou
o pedido dentro do seu direito de cidadão e de deputado e afirmou que a
aprovação foi consensual. Segundo ele,
Beatriz Catta Preta não será intimidada pela CPI.
Júlio Camargo
Catta Preta afirmou na entrevista
que passou a sofrer intimidação depois que o empresário Júlio Camargo, que ela
defendia, mudou o teor do que tinha afirmado.
Inicialmente, em depoimento do
acordo de delação premiada, ele disse que não tinha conhecimento de
envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras de pessoas com foro
privilegiado. Depois, declarou que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), tinha pedido US$ 5 milhões de propina – o deputado nega.
Após a revelação, Catta Preta foi
convocada para depor à CPI. "Vamos dizer que [depois do depoimento de
Júlio Camargo] aumentou essa pressão, aumentou essa tentativa de intimidação a
mim e à minha família", declarou.
Vamos dizer
que [depois do depoimento de Júlio Camargo] aumentou essa pressão, aumentou
essa tentativa de intimidação a mim e à minha família"
Beatriz Catta
Preta, advogada
Indagada sobre o motivo pelo qual
Júlio Camargo não tinha mencionado Eduardo Cunha inicialmente, a advogada disse
que foi por medo. "Receio. Ele tinha medo de chegar ao presidente da Câmara",
disse. Segundo ela, o empresário mudou de ideia devido "à colaboração
dele, a fidelidade, a fidedignidade da colaboração, o fato de que um
colaborador não pode omitir fatos, não pode mentir".
De acordo com a advogada, Camargo
apresentou provas. "Todos os depoimentos prestados sempre vieram
respaldados com informações, dados, documentos, provas definitivas. Nunca houve
só o dizer por dizer", declarou.
Eduardo Cunha
Nesta quinta, Eduardo Cunha não
quis falar sobre o assunto. “Eu não comento sobre isso. Eu não comento isso.
Então, pergunte à CPI. Sobre isso eu não falo", declarou.
O advogado do deputado, Antonio
Fernando de Souza, disse que as declarações de Beatriz Catta Preta não fazem
sentido, uma vez que Júlio Camargo já havia negado o envolvimento de Cunha
publicamente. No entendimento do advogado, as declarações da advogada dão a
impressão de "coisa montada".
Antônio Fernando voltou a negar
veementemente o envolvimento do presidente da Câmara nas fraudes e disse ter
certeza de que Júlio Camargo não tem nenhum documento que ligue Eduardo Cunha
às irregularidades.
Honorários
Catta Preta negou ter recebido
mais de R$ 20 milhões de honorários. "Esse número é absurdo. Não chega
perto da metade disso", disse. Segundo ela, o dinheiro foi recebido no
Brasil por meio de transferência bancária ou em cheque, com emissão de nota
fiscal e recolhimento de impostos.
Nesta quarta, a pedido da Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB), o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
Ricardo Lewandowski, criticou a convocação pela CPI e autorizou a advogada a
não se manifestar à comissão sobre assuntos que envolvam sigilo profissional,
como o recebimento de honorários advocatícios. A data do depoimento da advogada
à CPI ainda não foi marcada.
"Se eu tiver que ir à CPI,
infelizmente tudo o que eu vou poder dizer a eles é que eu mantenho o sigilo
profissional e não vou revelar nenhum dado que esteja protegido por
sigilo", declarou.
Estados Unidos
A advogada também afirmou na
entrevista que não se mudou para Miami (EUA) em razão das supostas ameaças, mas
viajou de férias com os filhos para os Estados Unidos, onde permaneceu por 34
dias.
"Nunca cogitei sair do país
ou fugir do país como está sendo dito na imprensa", disse.
30/07/2015
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